terça-feira, 22 de julho de 2008

Enfrente

Perfeita infância,
preciso do fim dos embrulhos coloridos
sobre suas ameaças comprimidas
pois, diferente das lembranças, do caminho percorrido,
meu presente é leve
e pouco sofrido.

Não insista em suas ideias
baseadas em conflitos
e não espere jamais
me pegar desprevenido.
Volte seu olhar pra si mesma
tome a mim de exemplo que assim prossigo.

Conceda-me, embrulhado mesmo,
esse último presente.
Mas saiba que não mais,
como era recorrente,
me deslumbrarei, perdido
em cores frias ou quentes.

Depois que eu o receber não se alegre,
já sei bem o que tu sentes...
Ao contrário disso não ando em círculos
se te peço tal presente.
É o que me resta reciclar
e transformar em algo útil para seguir em frente.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Busca-se Sentido ou Para Quem Souber Que É Seu

Quero dar flores na forma que for,
Música, poema, sadios ciúmes, prosa, rabiscos, cama,
Quero de quem me ama apenas o estado de amor
Para fora, sem medo e sem o peso das retribuições.

Sentir a sinergia dos atos,
Me embebedar de coincidências,
Complementações involuntárias,
Afeto desmedido,
Frivolidade íntima,
Sem me ater à angústia do fim.

Quero dizer que amo,
Com o ímpeto de quem se mata,
Quero compartilhar sorrisos e gargalhadas,
Não. Não quero qualquer ensejo de ânsia,
Quero ser calado com um beijo, mesmo a distância.

Frieza Constitucional

prestes a me recolocar sob o julgo injusto do sistema que, obviamente contrário à minha vontade, me rege.
perco-me em filas homogêneas, conversas repetidas há anos em ruelas cheirando a mijo, buscando meu próprio desgaste em troca de uns centavos.
ser agenciado, carimbado, cuspido, escarrado, e escancaradamente escravizado pela falsa vida justa e segura que um dito trabalho digno me fornecerá.
e faço sem relutar.
só quero sair de casa sem o rabo entre as pernas e sem abri-las às imposições castradoras de quem me gerou mas nunca me deu a luz.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Escultura²

a massa na mão.
linhas e contornos teórica e leonardamente perfeitos entregues à subversão do que é real e táctil. o peso, a textura, o espaço, todos em suas plenas versões. aqui não há fim ou início por mais que resultado esteja em cacos. são infinitas as perspectivas que compõem o intento artístico por traz da forma. por isso o que me brota como superfície é atemporal como as voltas possíveis de se dar no ato de colecionar visões da mesma coisa, infinitas são nossas possibilidades como o único lado da fita de moebius.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Escultura

pessoa de palavras, sou.
a mente desumana, não!
do que já me convenço, sou.
é posse comedida, não!
de afeto involuntário, sou.
do medo da solidão, não!
o ator desencarnado, sou.
a carne inabalável, não!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Equilíbrio da Referência Camuflada

nenhum ponto de referência a não ser eu mesmo,

viva por si,
trepe por si,
suicide por si,
trabalhe por si,
sinta por si,
tateie por si,
veja por si,
ouça por si,
coma por si,
cague por si,
mije por si,
acredite por si,

locomova-se,
divirta-se,

acredite-se,
mije-se,
cague-se,
coma-se,
ouça-se,
veja-se,
tateie-se,
sinta-se,
trabalhe-se,
suicide-se,
trepe consigo,
viva,

mesmo eu não sendo a referência de ponto nenhum.

Conforto

canta a tua canção presa
ridicularizando o que de ti não vem
para que todos ouçam.

preferiria que não temesses meu tato, meu afeto,
pois não aceito nada que me venha de maneira forçada
mesmo que eu pareça gostar.
é claro o meu prazer em me sentir a vontade graças a alguém
e é bom que cortem,
me imponho a solitária,
quero respirar meu carbono e desacelerar o coração.
que ele bata lento para que apenas eu possa sentir,
ou para sequer senti-lo.
ele deve permanecer ali, quase a esmorecer.
deve tomar consciência dos pulmões opressores que vão e vêm
assim como das costelas que oprimem os pulmões,
e dos músculos e nervos que oprimem as costelas,
e da pele que oprime os músculos e nervos,
e do que for que esteja presente no éter que oprima a pele,
mesmo que seja a tua.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Meus Galhos

não quero ter um câncer.
não quero caber em mim.
quero tanto a soltura dos cernes
como não dar acabamento ao todo.

falo da fluência íntima
e dela expressa na câmera de segurança que me fita,
a tal cujas lentes rachadas já não me intimidam mais.
e sequer falo de irresponsabilidade crônica,
só de conforto.

vinha me danificando em podas ao invés de crescer de maneira funcional.

a voz era sincera e feliz,
as palavras eram cortantes como previ,
o vazio não havia,
mas nem a angústia havia,
nem decepção,
talvez nem verdade...

ai, cara... nem verdade.
e é por isso que a tesoura está verde,
é de tanto tentar manter o que mais me tem feito feliz,
seja lá como for:
podando,
fluindo,
morrendo,
gritando,
calando,
querendo,
querendo,
querendo sem poder ter.

não quero ter um câncer.
não quero caber em mim.
quero transbordar e
- MEU DEUS! -
sobre alguém...

Lararí Lalará

Com as palavras eu brinco da Taila que desapareceu, mas o outro está na minha bolsa.
E estou cansado dessa gente que unicamente sai aos fins de semana e pira olímpica de Pequim será a menor de todas as olimpíadas por falta de talento ou a maior por imposição e falta de sinceridade.
Sendo assim ou assado na George Foreman Grill, a falta reprova, e são duas por aula morta de medo após ler o conto mais bem humorado do Poe, aquele do olho do edy de quem acha que é bom dar pinta como eu pinto amarelinho com chope de quatro reais impressões do mundo novo automóvel que voa, voa, calopsita, voa, voa, I-sa-BELA CONCLUSÃO!

Poemão

Não tem requeijão,
Manteiga com pão.

Como que reaprendendo a andar...

Até que ponto é preciso lidar com a falta de clareza de algumas pessoas com as quais me importo? Regras deveriam ser estabelecidas?
Até onde devo ir e não me sentir um incômodo?
É uma atitude sincera se omitir? É uma forma de auto-preservação que não fere a sinceridade autêntica? Pode ser uma característica autêntica de alguém a auto-omissão?

É como se fosse AUTO tanto pra a pessoa quanto pros outros que convivem com ela. É um self reprimido em pról da conservação do estado do ego.

Bicho Do Mato

inevitável é,
com relação a ti,
querer sempre algo mais a dar,
mas a minha consciência insiste em reprimir
ao invés de ajudar.

incomparável é
te ter aqui,
- como eu me sinto piégas em falar -
se te vejo insisto em fugir, tu sabes,
mesmo querendo ficar.

é o seu rosto que brota em meus papéis
quando um sonho meu se rabisca
mas teus olhos que não me fitam de revés
mesmo que eu insista.

Fora

Queres vestir teu ego
Com lenços de cetim
E dar vazão ao processo
De conhecer-te em mim?

É perda de tempo
Usar de referência
Alguém absorto
Da tua carência.

Anti-karma

O desnecessário contrato do querer,
Enciumado da fraca vírgula antes do seu próprio nome
Após o clichê dos clichês,
É causador da pior das fomes.

Sempre o medo da descoberta,
Da punição sobre a curiosidade inerente aos teus cânones
Criados de maneira incerta,
Como que forjando um clone.

Desça a armadura e jogue as armas
Em prol dos delírios anti-karma!
Que mal há no prazer e na calma
Que não te inflama a alma?

Abismo De Bolso

Cansado dos dramalhões edipianos, do revira-escrotum da solidão com suas lágrimas insistentes nos violinos e violoncelos dos finais felizes. É desse tipo de espelho opaco que cansei. As sugestões não são das boas por serem abismadas no sentido mais acoplado que se pode arranjar pra esse tipo de entretenimento.

Abismo de bolso:

A música que te mata, o filme que te arranca lascas e o pânico vazio de se estar protagonizando algo do qual não se é a terceira pessoa que me é suprimido. Como era bom chorar as agruras dos meus compositores preferidos e querer morrer como alguns deles.

Mas agora cansei da fuga constante. Não me vejo mais com saco pra isso. Tenho mais o que fazer além de choramingar coisas alheias. Quero intervir na minha instalação e performatizar o genuíno.

Lirismo Do Cu

onde foi parar meu lirismo? onde?
onde anda a vontade?
onde fica o abrigo? quero um útero? coloquei a cabeça pra fora da janela e já quero voltar? coloquei só a cabecinha?? heheh...

onde anda o lirismo? lá pela lapa?
será que anda na escola de belas artes ou no meu cu?
será que deixei nas mãos dos meus amigos o lirismo?
quero ele de volta?
por que pergunto?
quero a beleza das minhas idéias? as idéias fodas? ou quero ter idéias independentemente de sua estética ideal? ou será que não quero porra nenhuma a não ser viver em paz?

será que deixei o lirismo na minha última garrafa de chalise, ou na bela, ou na casa de alguém insignificante, ou no cigarro que acabei de defenestrar?

o que é o meu lirismo?
é comedido, é hipócrita? é paudurecente? é pesadelo? é pitoresco? é amoroso? é bláblablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablabla

blabla
blabla
blablablabla
blabla
bla
blablablablablablablablablabla
blablablabla
blablabla
blablablablablabla
blablabla
bla
blablabla
blabla

lirismo é pra conquistar abraço, beijo, atenção...
é?
até onde eu quero lirismo?

My Self

Nada me surpreende se tudo é surpresa. E dessa vez não há nada a se escrever, apenas ato em si, escrever por escrever, pela vontade, o prazer... E tenho aprendido o meu amor, como se aprende a andar: no início só grito por incapacidade; depois me rastejo, locomovendo-me por lugares macios; então tomo a coragem para me apoiar nos joelhos e arrastá-los no chão, sem o menor medo de um ferimento apenas o prazer de se estar indo em direção ao que se quer, mesmo sem saber se tal objeto é de utilidade ou não, pouco importa, o que importa é o prazer da locomoção, e pouco importa também que eu derrame líquidos nas pessoas ou quebre suas bugingangas, a única coisa em que pensava quando era assim é que elas deveriam sair da minha frente, por mais úteis que me fossem em outros momentos, ali, estavam sendo obstáculos; após isso me apóio nas coisas, deixo de lado o "reprimir obstáculos" e passo a usá-los para me erguer até que consiga a plena capacidade para caminhar e escolher minha direção. Estou sentindo esse solitário e gratificante caminhar de uma maneira natural que pode ser até ofuscada pelo fato de estar sendo escrito aqui, mas não. Estou escrevendo por relaxamento, tranqüilidade. Raras foram as vezes em que me dispus a criar algo sem uma emoção negativa como combustível. Essa é uma delas, quiçá uma das principais. Não há nada melhor do que ter essa sensação de estar a vontade plenamente, mesmo cometendo erros em seqüência misturados com os valores que dou ao alvo dos erros, até quando positivos. A segurança que ela me passa foi o "gatilho", e como tenho usado essa palavra ultimamente! Tenho vivido em meio a um tiroteio psicológico permeado de ansiedade e negações estigmatizadas conscientemente em minha personalidade, auto-impostas. Sei que ainda não estou livre, e talvez nunca esteja, nunca seja, pois não há nada pleno que possa ser compreendido por alguém limitado como eu. Tudo que me impulsiona a tomar ciência dessas minhas nuances é o quanto é bom pensar naqueles em que se ama. Pensar nisso é o melhor exercício já que pro pensamento nada se paga. Não há a hipocrisia do "pense em mim, chore por mim". Sinto orgulho de mim por estar com vocês.

Tampe Os Ouvidos

sabor alcalino, sagüíneo, no dia-depois acompanhado de um odor angustiado pela dúvida reprimida. é o sumo do Não que aguarda ser eloqüentemente pronunciado como a sua microfonia vocal velada por tímidos beijos. não temo... venho de um histórico "ponha-se no seu lugar", e nem me diga que é insegurança pejorativamente, como fraqueza, é o contrário. é a convicção de só parar de tentar abrir a porta com a testa depois que o sangue escorrer pelos olhos, narinas, boca...

sabor alcalino, sangüineo, no dia-depois,
insalubre sabor, que não me deixa,
dessa altura na qual me encontro
pois como grito estrondo
em pura queixa.

Eu Me Amo E Quero Morrer

surjamos do nada, como que brotados do ócio divino, oh! divino-ócio-resultante-da-monotonia-dos-afazeres. oh! gente-que-busca-ideologias-que-levem-ao-conflito-interno-
simplesmente-por-não-saberem-como-questionar-a-si-mesmas.
façamos um altar com uma estatueta de mikhail aleksandrovitch bakunin e rezemos com as palavras que o filho do homem nos pôs na boca! depois questionaremos nossos atos e quebraremos a estátua como resultado da cura a partir da terapia-sócio-evolutiva-individualista-do-revés-alvará-pró-autonomia.

que morram os pais, as mães, os patrões, os governantes, e... ôpa!?

QUE MORRAM OS SERVIS, OS OPERÁRIOS, OS FILHOS, OS ANIMAIS, AS PLANTAS, E... EEEE... e...

ôpa?!

Mais Do De Sempre

vem disfarçado de conversa, o conflito, mas tantas foram as vezes em que esse se repetiu que sua loa, mesmo suave, por mim já é decifrada como dissonante, estridente e incongruente com a minha atual situação.
a seqüência é a de sempre, nada me acrescenta. gritei. mas sinto que não se repetirá.
o meu medo da psicose está quase táctil já que a própria se pronuncia na minha atual frieza.
estou cansado...
muito.

O Gigante

conjeturas embaçadas e supostas metamorfoses psicológicas.
máscaras cada vez mais complexas e detalhadas,
concebidas no frio das indagações.
armado com um furador de gelo,
andarilho,
busco faces petrificadas.
minha curiosidade amedronta a mim mesmo
enquanto inerte perante os vagos objetivos que se sucedem
no gira-gira da ciranda em que me domicílio.
é tentar chegar no horizonte,
sob a perspectiva bípede, pisá-lo,
subjugá-lo enquanto me sustenta, como é de praxe entre nós,
ao invés de ir em direção ao limite,
sê-lo,
presente nas arestas do que se vê,
algo perfeito, ideal e sincero,
por mais que tais adjetivos soem mutuamente contrários.

equilíbrio.

Politicartilagem

sempre cartilaginosa, a estrutura não se desenvolve por completo, não te sustenta e por isso cometes os teus crimes sobre placas tectônicas nervosas, tentativas de saques cambaleantes embalacobacados cheios de malemolência, expressões fisicas do impulso safado que te move. és um cego usando paredes recém pintadas como moletas enquanto te perdes em meio aos questionamentos cromáticos engatilhados pelo cheiro que arde teus pulmões.

arde tinta
(arde tinta)²
(arde tinta)³

notícias vindas do extremo norte, do lobo parietal superior lobotomizado pela fome lupina governamental, canibalista. eu vou para a rua comer uma brasília imaginária nas discussões alcoólicas dentre pessoas de primeiro grau incompleto, vou mesmo! e farei isso tomando sol -...-(espaço reservado para slogan da coca-cola company) já que todos os meus naturais cernes de estados unidos não funcionam sem uma dose extrema de serotonina paga com a minha simpatia e rendas escassas resultantes dos experimentalismos empíricos freelas. na pressão, garçom!

o PRAZER dos cotonetes

nada muito intenso além da contemplação do constante fim, ridículo que é, mesmo que, ou enquanto, objetivo inevitavelmente desejado pelo mero desenrolar dos desejos aleatórios. preocupações descartáveis pululam todas as minhas situações e, por mais que sejam tempestuosas, como destrutivas tanto quanto como admiráveis, não me fazem sequer sentir a brisa paródica de um tornado. as responsabilidades são aspirações e eu quase desisto do querer. mereço conforto? carinho? elevo o tom da voz mental que me faz discorrer sobre o rotineiro limite que é estar vivo e deixo meus dedos calarem o que seriam palavrões berrados para o cristal da tela. a verdade é que sou moderado por isso canso apenas de uma coisa por dia. hoje cansei de buscar, cansei do esforço social, talvez ele me acometa em algum momento mas sob outra fachada, pois não me enganará tão fácil essa sensação de dependência. eu repetiria "não preciso" agora mas devo ser convincente. antes eu queria uma voz que penetrasse os meus ouvidos como cotonetes, até o timpanos, mesmo que o risco de uma cisão na haste fosse alto. os otorrinolaringologistas fingem que não querem lucrar com acidentes e insistem em nos dizer que os cotonetes só servem para a limpeza externa da concha auditiva. só para a limpeza externa! mas a divulgação negativa também é uma ferramenta, a melhor inclusive. sendo assim volto ao início, mas sem escrever, só deixando as reticências...

Paixões Da Bela

foram muitas decepções seguidas que a fizeram crêr que o problema estava em si mesma.
há algum tempo já vinha percebendo as diferênças nos olhares do porteiro, do rapaz do bar e do da farmácia, mas, sem muito pestanejar, considerou-as coisas de sua própria cabeça.
achava-se bela, e realmente era, ouvia elogios com muita freqüência, tanto direcionados a sua aparência quanto à sua educação, sua cultura e inteligência.
não era bem sucedida economicamente pelos padrões que considerava justos de acordo com seus talentos, mas esse não era o problema que mais lhe ocupava a mente pois, apesar de ainda não possuir um objetivo, tinha capacidades de adaptação e improvisação louváveis em diversas situações. sabia aproveitar as oportunidades, só achava que sua hora não havia chegado.
em suas reflexões não conseguia compreender o fato de nunca ter vivido uma verdadeira paixão que fosse correspondida de maneira proporcional. seus relacionamentos, todos duradouros, hoje lhe pareciam artifícios no combate ao tédio. paixões que não fossem distantes só lhe haviam ocorrido três vezes, ambas recentes, sendo a primeira mais intensa. nas três fora trocada, na última por uma companhia teóricamente menos importante, segundo as palavras da própria pessoa, na penúltima pela necessidade de curtir a vida, pelo que demonstraram os atos frívolos do aspirante a seu conjuge e na primeira pela solidão. ainda não compreendeu porque essas pessoas a corresponderam se não era a intenção real delas.
me fez algumas perguntas em busca de um conselho ou uma experiência pessoal. tudo o que consegui dizer é que ela havia vivido três grandes paixões em menos de um ano e que talvez elas permaneçam suspensas até que encontre uma resposta.

... E Cobra Do Mundo

escrevia cartas e mais cartas em datas festivas considerando sempre um insulto não obter alguma resposta, uma que fosse. deixava de escrever para aquela pessoa, não mais telefonava, deixando que seus relacionamentos seguissem um fluxo de ganho e perda sem a menor administração voltada ao desenvolvimento das aceitações.
não via sentido em procurar quem não o procurava, não havia tolerância, tratava-os como descartáveis. externamente só existia o que considerava válido ou digno de fazer parte de seu mundo. e possuía uma vida social bem preenchida de pessoas solidárias, simpáticas, e não por convenção mas por afeição a ele. enfim, nunca estava só. o desapego não era exatamente racional mas apenas a reação mais acessível, como que instintiva.
quando por acaso encontrava alguma das idas pessoas não dispensava acusações, agia como se fosse uma força da natureza que dá o contraponto dos acontecimentos de maneira proporcional, sem titubear ou medir as conseqüências. sempre justo, de acordo com seus preceitos.
reflexões eram desnecessárias, coisa de quem não tinha com o que ocupar o tempo, em seu mundo matemático não haviam dúvidas. mentia com justificas internas bem sólidas e detalhadas. sentia-se esclarecido demais desde suas lembranças mais antigas, como se nascera sabendo de tudo, o que não deixa de ser verdade se levadas em consideração as áreas de aplicação de seus conhecimentos.
em momentos de espectador não era crítico pois não tentava formar opniões próprias complexas, apenas observava da maneira mais pura possível
era desprovido de timidez, medo, aflição ou qualquer sentimento que não o fizesse bem. era sempre conhecido por seu bom humor, considerado um "espírito de luz" inclusive, por ser muito caridoso com desconhecidos. além disso só havia o ódio, um ódio muito intenso que o fazia querer que todas as pessoas fossem espelhos seus.

Ver Da De

além do que se vê:
persuasão como resultado e não como meio.

medo da psicose.
auto-persuasão como forma de aplacar,
ou só esconder a ansiedade.

auto-sugestão persuasiva.
medo de estar só,
medo de não ser ouvido,
necessidade de apego, segurança, solidez no ambiente psíquico.
convencer-se de que é pessoa merecedora de aprêço.

regras de bom convívio,
razão, emoção e vontade.
mensurar o próprio tamanho,
alimentar-se de bem-estar,
influência externa sem interferência.

formação.

observação.

formatação de pensamentos
e compactação de argumentos.

esconder o valor e blefar.

comparecer para ser convidado.
conviver,
conviva,
conviva,
com viva,
com vida.

Som Do Som

às vezes eu acho que é o som do som ligado, sem música,
o chiado quase inaudível;
às vezes podem ser as decepções em seqüência
e a beleza de algumas pessoas a me escravizar;
talvez sejam os cem porcento de certeza em um fim qualquer
ou a divagação diária sobre o dia em si...

procuro meios ilusórios, já que insisto em me sentir adequado,
e acabo rimando beijo com catarro, mau hálito com Amor e pedras com dois reais.
meto as mãos pelas pernas em busca do umbigo,
como torta de cebola gelada e considero diamante,
quero um cigarro infinito,
e uma verde garrafa de vinho branco.

milimétricamente acompanho meus próprios passos
aceso por senso crítico.
martirizo,
escravizo,
e nego
em meio ao processo de auto-aceitação.

gosto que me imponham limites, essa é a verdade,
me sinto acariciado, protegido,
mas gosto que isso seja de forma disfarçada,
para que eu me sinta um pseudo-autônomo
e, conseqüentemente, normal.

Sensíveis

É ser sensível estar disposto a se foder sempre, e existe uma glamourização em torno da sensibilidade que faz com que as pessoas se sintam culpadas por estarem lidando com alguém que sofre por elas. Acho que isso vem de Jesus, como é normal. É aquele velho medo de se estar andando em direção ao arrependimento, por um lado, e por outro porque a pessoa-sensível considera sua integridade emocional e seu talento perceptivo únicos e de extrema importância para todos.
Perceber os detalhes de uma maneira mais profunda não é talento ou maldição e é, muitas vezes, falso. O que ocorre normalmente é o exagero na interpretação dos acontecimentos, isso leva também ao exagero das reações: depressão, tendências suicidas, agressividade, vontade de se excluir, cortes de relações, não dar importância aos outros... - Enfim, diminuição do ego perante ao "tamanho" dos elementos externos e, conseqüentemente, dado o tipo de reflexão que a pessoa-sensível faz dos resultados das suas experiências, daqueles em seu redor a partir da atribuição de valores.
Não estou dizendo máximas, apenas refletindo. As referências são alguns amigos e, principalmente, eu mesmo, não a tôa, O Furo No Buraco Do Orifício.

Curso

leciono técnicas para relacionamentos interpessoais com pessoas sem-graça,
esse tipo de gente que não dá nenhum estímulo para que você continue convivendo com ela mas que,
infelizmente,
está sempre presente.

esse curso tem um valor superior ao anterior por se tratar um treinamento avançado
com uma linha de trabalho semelhante a terapia em grupo,
uma vez que a pessoa sem-graça está normalmente em meio a pessoas que considera sem-graça.

é invariavelmente necessário que as duas, ou mais pessoas façam a matrícula.

contatos: (21) 2502-6201
(21) 8898-2992
bio@poetic.com

atendemos em todo o Brasil.

Vacina

combate-se veneno com veneno,
vacinas são bactérias mortas,
guerreia-se por paz.

mas a guerra pacífica
deve ser o contraponto.

vacinas são bactérias mortas,
veneno inativo combate veneno ativo.

Mãe De 4

como compreender o que é ódio ocupa minha calma.
canso de pensar...
exclusão
exclusão
exclusão

não é meticuloso, nem programado.
parece surgir de um rompante respiratório, essencial, de recordações suspensas por rancor.

queijo minas.

quero a coragem.
ela é tão graciosa.
é tão bonito se dizer corajoso.
é tão bonito ter alguém corajoso por perto.

quem precisa da confiança quando se é arreganhado?
quem precisa de atenção quando se é do que se quer? ou do que o quer?

sentimentos manufaturados.
quero uma caixa.
quero duas.
quero...

promessas
promessas
promessas
promessas

onde eu deixei o guarda-chuva?
e você ainda vem me cobrar conversa?
mas você não ouve!
não ouve o que não quer conhecer?
comece pelo início.
seis anos atrás.
maconha na bolsa.

ódio
ódio
ódio
ódio
ódio
ódio

jesus? ele que vá pra puta que o pariu, ave santa.
nessas horas, o que importa é o ódio, e ai de quem colocar o nome de jesus no meio!

morre
morre
morre
morre
morre
morre
morre
morre

com a buceta ou o pau enquanto órgãos sensoriais.
porque é isso.
se você sente ódio. o negócio é foder com a cabeça de alguém,
matar qualquer possibilidade de um bom dia,
rogar uma praga,
tentar incutir o medo.
porque aí a pessoa não consegue ter coragem.
se encolhe,
e chora.

porque quem mais diz te amar é quem mais te fode.

Quem Se Importa? (A Quem Se Importa)

não tenho piercings,
não tenho tatuagem,
não sou culto,
não tenho aquele corpo,
nem estou maduro.

não sou responsável,
não tenho estímulo,
não sou esperto,
não sou assim,
nem estou perto.

Verdades A Venda

os nomes unami, as conversas com versos, a exposição é uma exposição.
ver verdade, abaixo de todas as máscaras, xícaras, chácaras, chakras, chá, chão.
piso, isonomia, isotopia, aquilo.
ver verdade, acima de todas as coisas, coito, coifa, fatiga, gata, gota.
fluido fluido que influi.

tudo, mas é tudo, leva a tudo.
vínculos, círculos, voltas, arestas, ar, há.

o que há só há pois há de haver.

verdades a venda! quem quer?

Culpa de Ser

cometo um crime sempre que acordo e me critico por pensar isso. não tenho mais idade para pensar esse tipo de coisa, já cometo crimes há tanto tempo e deveria me corrigir

Pequenos

é o barulho fantasmagórico dos motores no de ontem para hoje que me adormece o esquecimento constante que é estar acordado. tivemos um dia estranho, como de costume é quando estamos juntos. gosto de conhecer pessoas, você bem sabe... gosto de ouvir os batimentos cardíacos e sentir a pulsação, gosto do som arranhante de um pulmão experiente, gosto dos feromônios e gosto de como os percebo.
culmino num olhar disperso de dia seguinte descartando as possíveis ramificações dos acontecimentos sempre que algum estímulo, por mínimo que seja, contraria minha vontade de estar. sabes da minha saída repentina, sabes que veio de ti e da tua irmã, e que me lembro.
há muito o que fazer, mas nada que me faça sentir que devo.
tenho cisos que incomodam e que sensibilizam minhas gengivas. tenho medo de perder os dentes e ser feio.
sempre tive esse medo de ser feio um dia, o que me faz pensar na feiura constantemente, me sensibilizar com ela, quando precisa de minha atenção, me transformar...
são muitas as idéias repetidas, muitos dias e noites, muito chá mate e ameixas com cigarros. muitas aspirações, traspirações, e difíceis respirações inspiradas.
acho que tenho um câncer e tudo o que posso fazer é prolongar.

Cegueira Escultural

mãos etéreas que cortam os bloqueios dos objetos sem atingi-los,
mãos que acariciam como vento, e que, se concentradas quebram pedras,
mãos que distraídas permitem a saída para a liberdade de papéis, celulares, bolsas, mãos...
mãos que modelam, mãos que tocam, mãos ágeis e preguiçosas de um áspero veludo, pequenas e ilimitadas.

tateio a todos.
tudo tateio.

Quem Me Quer...

para que servem palavras bonitas?
a quem se engana?
como é possível enganar alguém se todos já sabemos do que somos capazes?
parece que não acreditamos da possibilidade de algo sair errado. é como se fôssemos protegidos por uma fraqueza tão grande, uma incapacidade ou um mêdo de sermos incapazes, que nos impede de assumir ou de aceitar que a brasa na qual se põe a mão queima.
pobre de quem afunda nisso e cria vínculos entre os acontecimentos decepcionantes.
veja...
a única coisa que existe de comum entre todos eles é você. é assim que você gosta de se ver? desculpe se não faço parte disso por mais que você insista na idéia de que sou o pivô das suas mazelas. aprenda a lidar com suas experiências, delas eu sou só mais um elemento. não me dê tanta importância pois não sou maior que você.
no fim das contas eu estou sempre aqui, acessível e querendo sua companhia. que mal pode haver nisso?

Carência Útil

contribuo com uma parcela de descontração, umas outras de pressão, alegria, melancolia e carinho.
fico imóvel ou repulsivo quando o lugar com o qual estou acostumado é ocupado por outra pessoa.
gosto das atenções: da analítica, da paciente, da tímida, da compreensiva, da frívola, da indecisa, da questionante... e da questionável também.
busco a plenitude das aceitações pessoais, o lidar extremo e relaxado. treino para ser um virtuose no lidar e parece que estou só nisso.

Polvo

o hábito de não fechar as portas dos cômodos por onde passo deve ser medo.
A falta de um "salvar como..." em alguns acontecimentos é extenuante.
queria ter um "não quero" suave que não resultasse em conflitos.
seria essa a forma injusta de manipular os fatos?
manipular é um verbo duro mas o aplicável.
o "cheiro do ralo" exala dos meus póros, já posso sentir.
não busco a transcendência da essência mas só o essencial.
para que, leve, meus sentimentos possam fluir.
e não escavar seus caminhos em chão pedregoso.
quero ser tão flúido ao ponto de não depender da gravidade.
quero escorrer de de um lado para outro, da base ao topo.
moldando aos obstáculos meu corpo.
conforme degusto a idade.

Cristo

depois de um pico emocional positivo, promissor e tão revelador como foi...
depois de um declínio tão bruto, forçado e, ouso, injusto, estou de volta à constância dos Amores.
o Amor gigante, que é dividido por todas as pessoas com as quais convivo, por igual (na mesma intensidade, moldado apenas pelas características de cada pessoa e relação) emerge trôpego e desfigurado pela paixão. confundo os tipos de receptividade, as intenções por trás dos gestos e palavras e a minha própria permanência em determinado estado. persisto na idéia de me manter equilibrado acima de tudo, mesmo sabendo que os acontecimentos sempre conspiram a favor disso, e esse hábito me coloca em queda-livre numa média aproximada de três vezes por semana.
comigo é sempre assim.
o que era paixão explode num rompante de cólera causado por atos consecutivos de inconseqüência e apego desmedido meus. depois, como ocorre com qualquer acontecimento tempestuoso, afrouxam-se se nós. sendo bréga, diria que o mar que chamo de Amor toma conta e afaga minha relutante consciência.
é por isso que confundo as pessoas. a paixão torna as cores vívidas, ilumina o alvo, já o Amor nivela as nuances até o monótono monocromo cotidiano.

Dean Moriarty

HEI!
onde foi guardada aquela vontade? aquele gosto pelas coisas... aquele lance de levar um clima de boate para o cômodo mais insôsso possível de se imaginar? aquela coisa kerouaquiana com trilha sonoro de swing? quando essas coisas voltarão? voltarão?
você fica estabelecendo normas para os seu sentimentos! cague p'ra eles como você faz tão bem. ignore suas pupilas e as cores hiper bem definidas que elas colocam p'ra te ludibriar quando você dá de cara com ela! vá! flexione o joelho e projete a perna pra frente!
pule essa fase!
pule porque ela não é
vá-
li-
da!

Gato Suicida

ter tomado consciência de alguns defeitos, se é que se pode chamar assim, pode não ter te feito muito bem.
de quem você sente falta? de quem?
talvez você gostasse da sua vida meses atrás.

falta um livro. um que não fique apenas narrando as etapas de movimentos artísticos. falta uma quantidade saudável de orgulho e um olhar mais apurado, realista.

você sempre consegue se sair bem de qualquer situação, sempre cai de pé. não deveria se apegar tanto...
ah! é essa auto-confiança exacerbada que faz com que você se entregue plenamente! agora entendi. vou lhe dizer então: você sempre caiu em pé, eu sei, mas nunca havia pulado de tão alto.

Ansiedade Equilibrada

preciso de algo que me mova. todos os recursos que utilizo não são para locomoção ou mesmo maquiagem, são para esperar. espero os dias, espero os dias passarem, espero as pessoas, espero as pessoas passarem, os amores, as loucuras, os palavrões, o expediente geral. os recursos servem para aturar a angústia da espera. a ansiedade verte dos mínimos póros do convívio sempre presente/sempre ausente. talvez ansiedade seja o nome do equilíbrio, o meio termo, talvez seja isso que se sente quando se está sobre uma corda bamba. é um estado de estaporvirjasefoi.

Matemática

minha vida é vaga,
a cabeça é vazia, instintiva, inconseqüente.
invento conceitos que justifiquem a falta de apego a qualquer ideologia por melhor que pareça para o bem comum. mas me justifico. busco aceitação. não sei se tenho direito a isso mas busco.
me sinto como um fruto de auto-repressão, e constumo dizer isso àqueles de meu convívio.
nossa, como sou vazio!
como minha vida é vaga!
como vaso pelas dobras das pessoas que amo com extrema facilidade quando elas me percebem como um cheiro ruim, ou uma mancha de tinta que sobrou do primoroso quadro que pintam com seus dias cheios de cores. sinto vontade de ser expulso. talvez agora eu esteja sendo sincero. por muitas vezes peço para ser com um gesto ou uma palavra que possa ser mal interpretada, de propósito. diria até que elas gostam de mim, o porquê eu não sei, pois fingem que não ouviram ou que estão se dando um tempo para entender quando na verdade estão me dando a deixa para que eu me corrija. e tenho o hábito de me corrigir. quantas vezes peço desculpas em um dia?
talvez eu devesse contar.

tenho uma instabilidade tão poética:

ser iludido por si,
fazer o possível para não pisar em insetos,
ouvir Beethoven numa tempestade de trovões percursivos,
tentar fazer a pedrinha quicar mais de três vezes na água,
lutar contra alguém com dois metros e quase duzentos quilos,
tendo um e setenta a cinco e sessenta e nove,
querer voar,
berrar num precipício da floresta da Tijuca em direção aos prédios,
causar terror psicológico,
pintar usando o corpo como pincel,
ter crises de soluços causadas por conhaque,
dar saltos com rolamento e uma boa companhia,
conhecer as pessoas pelo gestual e/ou pela voz,
cagar pra uma provável érnia de disco nos fins de semana,
resolver ser dançarino aos 26,
estar sempre gordo, mesmo vendo as costelas,
negar paixões,
detestar as próprias músicas,
ter dores de cabeça de três dias,
modelar o impácto com mãos flexíveis e argila 'semi-seca',
tirar proveito dos maços alheios,
dar três pontos na assinatura,
sentir preguiça,
tirar os óculos para ver o mundo a la Monet,
matar um Amor no dia do aniversário,
chutar o melhor amigo,
ter prisão de ventre,
sofrer recluso,
trair para sentir falta e não trair mais,
comer a bala que caiu no chão,
iniciar movimentos para saltos de lugares altos,
comportar-se mal com pessoas bonitas,
ser vagaroso,
gostar de John Lennon e Black Box Recorder ao mesmo tempo,
desdobrar,
iniciar relacionamentos sérios por tédio,
buscar um traço leve,
levar dois socos e pedir o terceiro,
nadar de olhos fechados em direção ao outro lado do oceano atlântico,
evitar pães,
correr na beira do teto de alguma construção,
pular de mais de cinco metros, ou do ponto mais alto do sorriso do balanço, ou no maomao,
ter como exemplo de virtuosismo os cães,
tentar imitar vozes,
comer por obrigação,
não chorar nunca.