terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Poema de vinte e cinco de fevereiro de dois mil e catorze

A ilusão de vivenciar a paz
em alguns momentos do dia
já não me consola mais.
Sei que alguém vem.

A conciência de que não
estou aqui para ser
ouvido, mas para soar em vão,
é meu amém.

Compreensivo que é
Morfeu tenta me deixar só,
porém de seus etérios domínios
não se nota inútil:

Hoje não durmo
e me demoro a perceber
que perco tempo em tentar,

boa companhia
que para si não sou,
acabo por escolher alguma outra
em dias assim.

E ele parece revoltar-se
e envolver-me em ônibus,
trens, a permitir que me levem
os objetos ainda não pagos.

Tais dias têm-me ocorrido
em tic e em tac,
lentamente,
dia tic,
dia tac,
sem síncope,
tic,
tac...

Uma das piores coisas tem sido
não conseguir ficar só,
nem na praça,
nem na calçada,
no bar,
ou em qualquer dos meus víveres geográficos,

pois a simples expectativa
da volta à tal casa,
que lar não é,
já me coloca na companhia de alguém...

dum...
duma
Duna
que um dia,
pelo vento
ou pelo saque,
revelará o sepulcro
de um negro rei,

que ao ser violado
permitirá a entrada do sol,
por um sutil feixe,

até uma tés.

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